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AUGUSTO ÁRTICO ESCREVEU SOBRE NOSSA VIAGEM

06-02-2011 16:52

 Uma Aventura Programada – Maia em Ushuaia. A viagem de 9.800 km realizada por Maia pilotando uma moto levando na garupa sua esposa Ignes até o Fim do Mundo, A Terra do Fogo na Patagônia Argentina /Chile.

Vamos voltar no tempo

 Após o retorno da viagem de 7.700 km realizada em dez 2009 / jan 2010 no percurso São Paulo-Viña del Mar, Chile - São Paulo pilotando sua HD, Maia era aquele colega que queria mais, podia mais, demonstrava estar com disposição de realizar outra viagem de percurso longo aqui na América do Sul.

Ele como todos nós possuímos o desejo de ter duas talvez três motos. Motos com estilos diferentes, cilindradas diversas tudo que nas revistas e nas estradas estamos sempre vendo, comentando, lendo, sonhando. Nos passeios de fim de semana nasceu a determinação de realizar a próxima viagem utilizando uma moto modelo Bigtrail.

A rede de contatos aqui em Salavador logo identificou uma em Feira de Sanata na Motopel de Wilson de Oliveira Filho o Wilsinho, um ex-endurista colega dos anos 90.

-         Artico vamos a Feira de Santana, quero ver a moto. 

Assim, com um grupo de colegas, chegamos à revenda em Feira de Sanata e o previsto aconteceu, a compra foi realizada. Festejamos com brindes a chegada da Honda Varadero, e com ela iniciou-se os muitos km da sua nova aventura.

Tempos depois Ushuaia foi comentado por ser um percurso nos países da Argentina e Chile aos quais Maia já estava muito familiarizado. O casal aproveitou uns pacotes turísticos e por várias ocasiões estiveram em Buenos Aires preparando o terreno de sua grande aventura. O objetivo, a meta, o destino já estava escolhido, necessitava agora iniciar os preparativos para percorrer grandes percursos diários em velocidade segura tendo o corpo + mente em perfeita harmonia.

Foi em ago/2010 que Maia recebeu de outro componente do PHD, o livro Ushuaia-Duas Rodas e Um Sonho escrito por Sérgio Pires um dos dez integrantes daquela viagem realizada no mesmo período em que Maia estava rodando de HD pelo Chile, dez 2009/jan 2010.

Um livro é completo para todo motociclista que sonha em realizar uma viagem com a companhia de outros. Obrigatório a sua leitura pelo fato de conter as diversas situações ao qual todo viajante de moto em grupo está sujeito a viver: Na alegria e na tristeza, na saúde e na doença... igual a promessa de casamento. Maia após ler duas vezes, entregou-me com uma recomendação muito sincera:

-         Artico leia que você vai gostar.

      Li e o objetivo de Maia passaram a ser também meu. Incorporei sua determinação e me prontifiquei a contribuir na sua preparação. Lembrei as minhas viagens solitárias realizadas com Ilona no trajeto SSA/POA/SSA nos anos 90. Inclui a maior delas, em 97 no percurso SSA/Buenos Aires/SSA realizada com o colega Joaquim Maurício Leal, o Joaca. Nós três vivemos uma grande aventura que as lembranças não deixam esquecer. Na verdade no entra e sai de ano o que fica são as lembranças das viagens realizadas de moto. As motos e os colegas estão sempre enquadrados nas fotos magnéticas de nossos micros. Vivemos com isso.

 O Roteiro Colorido

Maia pesquisou na internet, estudou, desenhou, traçou seu roteiro. Comentava da Ruta 3 e 40 como nós falamos da nossa BR-116 e BR-101. Tinha tudo no GPS mental que possui. As cidades, as distâncias diárias já estavam definidas por dia. O período disponível de 22 dias foi ofensor para adotar o “pulo do gato” que consiste despachar a moto em uma transportadora ate Porto Alegre. Com isso, evitou 6.000 km de tráfego com caminhão, estradas com acidentes e cruzamentos das cidades deste Brasil com vias rodoviárias congestionadas. Comentei com palavras de quem já realizou e com tom de sabedoria:

-         Maia com este pulo você economiza 8 dias e muito stress improdutivo. Parabéns!

Após rodar cerca de 10.000 km nas idas e vindas pelo Recôncavo Baiano, Aracaju e Campina Grande sua terra natal, Maia estava bem familiarizado com a moto e pronto para a sua longa e duradoura viagem de aventura.

 Físico de Gladiador

Pires salienta a existência de pilotagens sujeitas a fortes ventos que surgem dos quatro pontos cardeais e a existência de percursos com estrada de ripio. Ripio é o nosso conhecido cascalho com o detalhe, as pedras serem no formato liso, arredondado, sem pontas, bem feitas, próprias para “derrapa, cai que estou te esperando”. Se não mete medo sabemos que assusta. Senti arrepios somente no pensar.

O casal manteve seu físico com hábitos semanais, nadar cinco vezes por semana e realizar algumas caminhadas. Maia espantou o medo do ripio matriculando-se no curso de Lucas um ex-piloto de MotoCross e ali, adquiriu um desempenho e domínio mais adequado para pistas off road, frenagens e postura apropriada para pilotar sua Bigtrail.

 Roupas de Ninjas

Quando Maia me mostrou o vestuário adquirido para os dois, vestimenta segunda pele, botas impermeáveis, jaquetas e calças com forros e luvas bem acolchoadas, bala clavas e goros comentei:

-         Vocês parecem Ninjas viajando nas terras dos esquimós.

Pires salienta que as temperaturas são na faixa de 4°C até 11°C. Nas fotos de Ignes incluídas no blog podemos sentir que o calor que eles sentiram foi no coração porque na pele foi de gelo seco.

 Bagageiros, Maleiro, Malas

O bauleto do fundo comportava 55 litros, grande suficiente para guardar dois capacetes fechados. As laterais cada uma com 32 litros.

-         Artico já comprei as malas, vamos testar sábado.

-         OK. Um café na Motopel e depois almoço na Toca do Bode em FSA.

-         Perfeito, 07h no Posto Escola.

Os 120 litros que representam 42 kg parecia muito, mas quase não deu para o casal.

Ferramentas e roupas de chuva são obrigatórias para todo viajante. Cosméticos e roupas de civil do casal completa o volume disponibilizado. Sempre foi assim, empurra, soca, aperta e fecha com medo que abra sozinha. Por mais roupa que se leve, estarão sempre se sentindo sujos. Coisa de viajante sobre duas rodas.

     As malas acrescentaram uma área maior ao qual Maia deveria segurar no braço quando nos percursos de ventos laterais. Dito e feito voltou cheio de histórias das forças laterais, o andar inclinado e os empurrões ocorridos ao cruzar com caminhões nas retas intermináveis do percurso.

Moto, a Rainha na Estrada

-         Já liguei para o Wilsinho, vamos a FSA, quero revisão completa, total, plena na Varadero.

Maia não economizou na moto. Não podia ser diferente. Quando o piloto alcança as rodovias sua confiança no equipamento deve chegar aos níveis de padrão militar, nada fora do lugar, nada com a famosa meia vida.

Depois de 48 horas a moto foi entregue para a instalação de dois pneus zero Km.

Já na transportadora solicitaram a retirada dos espelhos retrovisores para serem transportados em bagagem de mão. Pronto agora pegar o avião e descer em Porto Alegre.

Sua programação era trocar o óleo em Ushuaia. As pastilhas de freios tinham autonomia para todo o percurso. O pneu traseiro era uma duvida para todo o percurso e ficou de observar o desgaste. O conjunto relação de transmissão deveria ser observado e no segundo aperto pensar em trocar por novos.

Os fatos não fugiram do programado e alem da troca do óleo Maia aproveitou o tempo e realizou a revisão geral dos 19.000km em Rio Grande já no Brasil com troca completa da relação. A rainha deveria estar sempre bem vestida.

 Rede de Apoio e Blog

Aqui Maia inovou, surpreendeu, aprimorou. Criou um blog referente à sua aventura e distribuiu os adesivos de Ushuaia. Com isso, ficou mais próximo de todos os conhecidos e os amantes deste tipo de viagem. Somos todos iguais, dormimos, acordamos, sonhamos, pensamos, falamos, ouvimos, queremos sempre rodar, queimar gasolina, gastar pneu, trocar filtro/óleo, relação e novamente rodar, queimar gasolina...

Na viagem anterior realizada ao Chile pilotando sua HD, Maia necessitou de um reparo na pedaleira e acionou a “rede de assistência humana”. É assim que costumo chamar, as pessoas dispostas a tirar o piloto de alguma dificuldade. A dos PHD é famosa e verdadeira, e funciona muito bem. Choveu telefonemas e emails solicitando posição exata, sugerindo conserto, assumindo transporte. Os sujeitos que nem conhece, mas que por ser motociclista HD estão prontos a auxiliar o viajante no que for necessário.

Para Ushuaia, Maia optou por outra moto, mas a rede acompanhou com muito carinho sua aventura.

No blog podíamos acompanhar o casal de viajantes através dos textos simples e abrangentes dos locais e momentos vividos. As fotos mostravam a paisagem e o colorido de sua aventura. São tão reais que sentimos no peito o coração olhando, apreciando, sonhando. O Livro de Visitas está repleto de votos de felicidade e realização para o casal amigo.

Maia teve o cuidado de manter um canal de consulta através de seu email pessoal e assim constatei sua determinação de ir dormir com a opinião de outros colegas a respeito de suas duvidas e questionamentos. Mostrou que o nível de risco mantinha em zero igual à temperatura na ponta dos dedos sem as luvas.

 Fazedor de Garoa

Quando Edgar Azevedo o PHD001 – Chico juntamente com um casal chegou aqui em SSA, em outubro pilotando suas HD-Ultra Eletra Glide retornando da viagem de 57.000 km denominada Expedição Alasca, tinham já obtido o titulo de Fazedor de Chuva pelo fato de haver realizado tamanha aventura. Pires em seu livro descreve bem este titulo e os PHD por analogia criaram o Fazedor de Garoa, titulo merecido a todo viajante que fizer a viagem a Ushuaia.

Maia agora possui este titulo especial merecedor pela sua conquista, sua determinação, seu sucesso, sua programação e realização desta que se chamou a viagem dos sonhos.

 Olhando no horizonte

Após um longo jantar, Maia chama o garçom:

-         Um chopp e fecha a conta, por favor.

Gratificante é conversar com um viajante e viver o terceiro tempo. Explicando melhor:

Primeiro: projeto, preparativos, treinos, planejamento.

Segundo: realizar, viver, rodar, visitar, fazer e acontecer, povoar o blog.

Terceiro: chegar e contar aos amigos detalhes dos acontecimentos.

Os detalhes vão surgindo e as lembranças não deixam mentir. Maia reforçou os conselhos de Pires de sempre guardar a moto abastecida na garagem do hotel para no dia seguinte não perder tempo e se concentrar apenas no roteiro. O cuidado com os animais ao longo das rodovias deve ser do casal, e sempre sinalizar qualquer vulto em movimento.

Mas bom mesmo é ouvir a animação da conquista realizada e apreciar frases do tipo

-         Artico, já estou pensando na próxima, aqui na América do Sul. Que tal cruzar, descer até, subir via ...

 Ricardo e Ignês Maia, parabéns pelo realizado e um bom ano para todos nós.

 SSA, 12/01/2011

Augusto Mario Ártico

G8+2- Vstrom –1000

Revisão da Varadero na Motopel